E por falar em biografia…

As quatro estações do ano são uma bela imagem para as fases da biografia humana, conforme trazido pela Dra. Gudrun Buckhard, autora do livro Tomar a Vida nas Próprias Mãos e a pioneira do trabalho biográfico no Brasil. Do nascimento até os 21 anos, crescemos e florescemos para o mundo – é a primavera. O período dos 21 aos 42 anos corresponde ao verão, a fase expansiva da vida, quando atingimos a maior vitalidade e os frutos amadurecem. No outono, dos 42 aos 63 anos, os frutos são colhidos e a vida se torna particularmente colorida. Chega então o inverno, quando as árvores perdem suas folhas revelando sua essência e as sementes ficam pelo chão, esperando uma nova primavera.

Tal qual as estações do ano, cada uma das estações da vida tem sua própria cor e calor. São ciclos de desenvolvimento, com seus desafios e conquistas específicos, que se sucedem, cada um estabelecendo as bases para o desenvolvimento do seguinte.
Começamos essa jornada totalmente dependentes, recebendo do mundo tudo o que precisamos para o desenvolvimento do corpo e da alma. Mas trazemos em nosso ser o impulso para o autodesenvolvimento. É a força do EU que gradativamente amplia a consciência e mobiliza os talentos para enfrentarmos os desafios da vida.
Eu trago serenidade em mim,
Rudolf Steiner
Em mim mesmo eu trago
As forças que me fortalecem
A primeira estação da vida (primavera) vai até os 21 anos e corresponde a um grande ciclo de preparação, onde nosso corpo físico, nossos processos vitais e nossa alma se desenvolvem e nos preparam para a vida adulta. Nesse ciclo, o desenvolvimento de nossas capacidades se dá principalmente de forma receptiva, de fora para dentro, por meio da família, da escola e do convívio social na juventude. Nessa fase, a criança e o adolescente têm uma predisposição natural para ver o mundo como bom, belo e verdadeiro. E quanto mais ele puder vivenciar essas qualidades na sua formação, mais preparado estará para enfrentar os desafios da vida adulta.
O segredo destas flores fechadas é que exatamente no primeiro dia de primavera, elas se abrem, se dão ao mundo. Sejamos como a primavera, que renasce cada dia mais bela… Exatamente porque nunca são as mesmas flores.
Clarice Lispector
Na estação dos 21 aos 42 anos (verão), temos o ciclo da conquista, quando estabelecemos e consolidamos nosso lugar no mundo. Definimos a profissão, construímos uma carreira, formamos a família, temos filhos e acumulamos patrimônio. É a fase da vida em que estamos mais ligados ao que é do mundo material, mas também é a fase em que estabelecemos e consolidamos os principais relacionamentos da vida. Nesse ciclo, a educação continua muito voltada para o desenvolvimento de habilidades técnicas e sociais, mas agora ela ocorre pela vontade e iniciativa de cada um. É também a fase em que desenvolvemos a emoção, a razão e a consciência em nossa alma, a partir dos conteúdos psíquicos e emocionais trazidos da infância e adolescência. É uma oportunidade de ressignificar padrões e crenças impostos pela família, que nem sempre aproveitamos.
Ainda acho que precisamos conhecer o inverno para compreender o verão, assim como é necessário passar por momentos de tristeza profunda para conseguir identificar e valorizar a felicidade quando ela chegar.
Do livro “A Cabana”
Em torno dos 42 anos, entramos no outono de nossas vidas normalmente com perguntas que vêm de nosso íntimo questionando qual é de fato o sentido que a vida tem. Essa é a crise da autenticidade que é acompanhada por um declínio mais perceptível da energia física, o que libera nossa consciência para um novo olhar sobre o que já vivemos e um novo ouvir para os anseios que vêm da nossa alma em relação ao futuro. É a fase do autodesenvolvimento impulsionado pela busca da missão de vida. Mais uma oportunidade de transformação de tudo que foi acumulado como experiências e frustações, dores e alegrias, agora de uma perspectiva mais abrangente na busca do que é essencial, necessário e útil, para si e para os outros. Uma fase muito rica da vida, quando ainda temos muita energia para realizações no equilíbrio entre o SER e o TER.
Outono me faz lembrar
Joelma Rocha
que mudo as minhas folhas,
mas nunca as minhas raízes.
Que passo por estações,
mas deixo as minhas sementes.
Que o vento que me balança
também espalha o meu perfume.
E finalmente chegamos ao inverno, no entorno dos 63 anos, que marca uma verdadeira libertação das obrigações impostas pela vida. Já não mais “temos que…”. E a diminuição ainda maior da energia física nos permite a ampliação da consciência para um patamar ainda mais elevado onde conseguimos fundir o pensar com o sentir… Um pensar com o coração, onde o TODOS NÓS ocupa o lugar do EU e VOCÊ. E trilhar esse caminho de liberdade nos leva ao encontro com nossa essência, à espiritualização de nosso ser. É uma fase em que o corpo dá lugar à luz que vem dessa essência. Não é à toa que as crianças gostam tanto dos avós. Ambos brilham na mesma frequência e intensidade. Uma grande oportunidade de doação do que cada um tem de melhor e felizes os que deixam para o mundo mais do que receberam.
Que nossa alma tenha sempre
Carlos Vilhena
a leveza da primavera,
a força do verão
e a profundidade do outono,
para alcançarmos a sabedoria do inverno.
24 Comentários
Texto bonito. Quase poético. Nos faz sentir uma leveza e bem estar para entender,aprender e viver os Ciclos da Vida.
Obrigado Eliane, querida amiga desde a primavera….
Carlos
Perfeita a analogia das fases da vida com as estações.
Embora, eu esteja vivendo o “outono” , tenho a felicidade das sensações, aromas, harmonia, cores e sabores de todas e as demais estaçoes.
Sim Solange… o outono traz essa qualidade de sintetizar o que de relevante vivemos desde a primavera.
Abs, Carlos
Excelente texto! Profundo autoconhecimento e que acalma a nossa alma percebendo realmente, que a nossa vida passa pelas belas estações com sua cores bem defenidas, nos preparando lentamente para liberarmos nossa essência no final do ciclo em arco íris! Gratidão a toda equipe do ciclo da vida com este belo trabalho biográfico! É fantástico e transformador este profundo autoconhecimento! Abraços.
Nós é que agradecemos
Já conhecia essa analogia, mas achei belíssima a forma como elaborou o texto. Com a surpresa final da sua própria inspiração. Muito bacana!
Obrigado Rosângela…. a imagem das estações do ano é mesmo muito inspiradora.
Carlos
Gostaria de receber mais materiais relacionados a antroposofia.
Seria uma forma que eu teria para estudar e aprofundar no assunto.
Obrigado.
Sim Max. Um livro básico sobre o trabalho biográfico é o “Tomar a Vida nas Próprias Mãos” da Dra. Gudrun Buckhard. Caso você esteja interessado em algum outro tema mais específicos, temos diversas outras publicações para te indicar.
Carlos
Muito bacana esse trabalho de reflexão sobre a biografia de cada um. Nossa sociedade precisa deste tipo de reflexão, desta oportunidade de olhar para sua história e se dar a chance de entendê-la e se tornar autora do que ainda viveremos.
Sim Marta, o caminho individual do autodesenvolvimento contribui para o desenvolvimento de toda a humanidade. Cada um fazendo sua parte. Obrigado pelo comentário.
Carlos
Maravilhoso!!!
Com uma profundidade que encanta e nos inspira!
Obrigado Alessandra
Carlos
Lindo texto! Parabéns!
Obrigado Ana
Carlos
Lindo texto! Tudo passa muito rápido e é importante parar para refletir sobre o nosso momento de vida.
Obrigada por esta oportunidade.
Obrigado Ana, querida amiga desde a primavera….
Parabéns pelo excelente trabalho. Gostei muito. Acompanhei cada etapa.
Fico feliz Tania que você tenha nos acompanhado. Pretendemos compartilhar mais nossas reflexões sobre a Biografia Humana. Obrigado pelo comentário.
Carlos
Que belo texto e o quanto reflete de fato nossos ciclos na vida. Uma leitura leve, profunda e reflexiva. Parabéns.
Obrigado Ana
Carlos
Adorei o texto! Perfeita analogia!! Excelente!!!
Obrigado Angela
Carlos